SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA - Filhos e o rock’n’roll

Lemmy do Motorhead falava que, se você quer ter uma banda de rock, o melhor é não ter família. Ele tinha muitas razões pra dizer isso. Família faz você querer ficar mais em casa enquanto a banda de rock precisa que você viaje bastante. Família traz responsabilidades que não condizem com as responsabilidades com a banda. Família deixa você sensível demais. Entre outras muitas razões.
No final das contas a gente acaba casando e fazendo uma família, indo contra as regras do Lemmy. E essa família tende a crescer. Uma hora os filhos chegam.
O meu filho vai fazer 10 anos em agosto de 2017 (escrevo esse texto perto do aniversário dele). O cara me dá muitas alegrias e me faz pensar e repensar a vida. Me tira completamente da zona de conforto. Me faz correr atrás de um monte de coisas.
Se eu estaria mais tranquilo sem ele? Óbvio que sim.
Se minha vida seria mais fácil sem ele? Claro que sim.
Filho demanda tempo, disposição, participação, amor, dedicação, companheirismo, educação e tantas outras coisas complicadas.
Junte tudo isso ao dinheiro gasto para criar o moleque e terá uma soma pessoal e financeira absurdamente alta.
A pergunta final é “e vale a pena?”
Claro que sim! 
Cada minuto, mesmo quando dá aquela vontade de esganar a criatura, ainda assim vale a pena. Para mim, ter um filho deixou-me uma pessoa melhor, tornou-me mais humano, com mais empatia pelos outros. Sei que nem todo mundo é assim. Vejo muita gente que, depois de ter o filho, vira um tal de “tudo pra meu filho e fodam-se os outros”. Comigo funcionou diferente. Claro que quero a felicidade dele, mas quero que ele saiba que a felicidade depende de um todo maior que o seu próprio umbigo.
Tudo isso pra contar algumas histórias sobre filhos e rock. Vamos a elas:

Quando ele tinha uns dois anos, aprendeu a cantar “Yellow Submarine” dos Beatles. Eu registrei no celular e um ano depois gravei uma canção que fiz pra ele quando era uma criança de colo e coloquei-o cantando no começo. A música é “Você me faz” e quem canta é a Ju Kosso que não tem filho! O disco era dos Estranhos no Paraíso que eu montei pra falar de coisas diferentes das que eu estava acostumado. Junto com Paulo Anhaia, Ju Kosso e Marcelo Ferracini
Foi um jeito de deixar registrado o que eu sentia na época e poder lembrar pra sempre. Só ouvindo a música.
Você me Faz - Estranhos no Paraíso. Pra quem quiser ouvir tem em todas as plataformas e aqui os links do Deezer e Spotfy.


A outra história aconteceu anos depois quando ele já entendia melhor o mundo. Eu estava tocando no Centro Cultural São Paulo com as Velhas Virgens. Ele já tinha ido em shows mas aquele era especial. O rapazinho subiu no palco pra falar comigo. Pediu que eu me abaixa-se pra poder escutá-lo e disso que minha guitarra estava muito alta. Caralho! 
Meu produtor pedir pra abaixar a guitarra, ok. O Paulão pedir pra abaixar a guitarra, ok. Mas meu próprio filho! Era demais! 
Achei graça e abaixei a guitarra por via das dúvidas. Ele podia estar certo!
Acabou se interessando por piano e bateria. Nunca quis saber de guitarras. A vida tem dessas coisas.
O Kainã Moraes pegou o momento da bronca! A foto do Pedro olhando pra minha guitarra e pedindo, delicadamente, pra abaixar o volume.

Meu filho Pedro pedindo pra abaixar o volume da Guitarra.

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