SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA - MAIS DE 30 ANOS DE BANDA E AINDA ESTAMOS TOMANDO MAIS CERVEJA QUE REMÉDIO. ENTÃO FLUTUA!
MAIS DE 30
ANOS DE BANDA E AINDA ESTAMOS TOMANDO MAIS CERVEJA QUE REMÉDIO. ENTÃO FLUTUA!
A atual música mais tocada na
Van das Velhas Virgens é “Flutua”. Um Blues de Johnny Hooker (part. Liniker). E
você me pergunta o que essa informação tem de relevante?
Pra vocês Velhas Virgens podem
não ter nada a ver com uma música que fala abertamente de homossexualismo, mas
pra nós é o indicativo do ótimo momento de quem de liberdade que a música
atravessa mesmo com todo o patrulhamento ideológico e artístico que vivemos.
Isso se reflete diretamente no nosso trabalho que versa sobre liberdade. É uma
música de quem está feliz, de quem é livre e é um blues!
Cara, há quanto tempo você não
ouvia um blues em português fazer tanto sucesso? Desde o Cazuza?
Depois de algum tempo em que
achamos que a banda ia acabar nós voltamos a crescer. Voltamos a ter prazer em
cair na estrada e tocar. A banda volta dos shows cantando alto, bebendo, rindo,
todos loucos bem-humorados e muito felizes. Isso não acontecia há algum tempo.
Cantando essa música que já
nasceu um clássico com o refrão: “Flutua! Ninguém vai poder, querer nos dizer
como amar!”.
Pra entender o tamanho do
problema em que estávamos, vou voltar um pouco no tempo, no final de dezembro
de 2017, pra ser exato dia 31. Três anos da morte de minha mãe. Uma perda como
essa marca a gente e passamos a contar o tempo de acordo com a data. Vou resumir a ópera desses três anos e meio
de decadência.
Em 2014 passei uma boa parte do
segundo semestre no hospital cuidando da minha mãe, já sabendo que suas chances
de sair eram nenhuma. Esse lance me abalou, parei de trabalhar e de cuidar das
coisas das Velhas Virgens, da gravadora, enfim dos meus deveres e trabalhos
normais.
Depois de três anos eu consigo
falar no assunto e ver com clareza o que aconteceu. Não é uma justificativa e
sim uma constatação de fatos. Minha ausência dos trabalhos, tudo correu com
rédeas soltas, minha displicência e negligência das obrigações (um tanto
naturais no momento em que eu estava vivendo), levaram a banda e meus outros
trabalhos ao limite. Estava tudo desmoronando.
Não é que eu seja o maioral, ou
que seja imprescindível, mas observei que sou os braços, pernas e pulmões das
velhas Virgens, enquanto o Paulão é o coração. Dividimos o cérebro em três
junto com o Tuca que cuida do fígado também.
A verdade é que deixei tudo
correr e cada um fez o que quis. Perdemos a nossa direção e estratégia de
negócio. A banda perdeu o rumo. O Paulão andava descontente com outras coisas.
Estava fazendo 50 anos e em uma crise pessoal séria. As dificuldades que a
banda oferecia, o levaram a dar declarações da sua insatisfação e provável
saída da banda.
Estava tudo uma merda. Eram problemas
internos com outros músicos, problemas com nosso empresário, brigas sem fim, falta
de shows, falta de grana e perspectiva. A implosão parecia inevitável. Chegamos
a pensar que a banda já tinha dado o que podia e era hora de partir pra outra.
Aqui entram os problemas. A
morte da minha mãe, logo em seguida a notícia que o Paulão queria parar (isso
me levava a outra morte, a da banda), nenhum dos meus trabalhos dando dinheiro
suficiente para manter minha família e minha vida, entrei em parafuso.
Para minha surpresa reuni o
pouco que sobravam das minhas forças, respirei fundo, montei uma nova
estratégia e fui em frente. Muito mais por não ver alternativa que por vontade.
O jogo parecia perdido desde o início.
A primeira coisa era arrumar a
casa. Ir atrás de um novo empresário que acreditasse na gente, tirar o que
estava incomodando dentro da banda e pensar um plano de emergência. Literalmente
limpar o terreno. Foi dolorido para todas as partes, teve muitas brigas
violentas. Mas conseguimos.
Depois criamos novos produtos
como o Workchopp e o show de 30 anos. Todos arregaçaram as mangas e deram o
melhor de si pra gente virar o jogo.
Foram três longos anos até chegarmos
a um janeiro de 2018, com muitos shows marcados, carnavelhas fechado e ainda a
promessa de voltar a compor e gravar novidades ainda esse ano. Todos com gás,
com alegria, com vontade de tomar todas e tocar em todos os lugares possíveis!
Mais de 30 anos de banda e ainda
estamos tomando mais cerveja que remédio!
Eu só tenho
a dizer uma coisa: “Flutua!”.
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