SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA – Moral e Prostituição

Quando eu era criança, tanto a moral quanto a prostituição eram separadas por grossas linhas divisórias. Eu podia não conhecer essas palavras exatamente como são, mas minha pouca idade já me permitia saber distinguir muito bem o que era certo e o que era errado. Eu estudava para ir ao seminário. Tinha uma consciência muito rígida do bem e do mal.
Quando comecei a crescer é que esses conceitos ficaram embaralhados. A linha divisória foi ficando cada vez mais tênue.
Na faculdade eu roubava livros e HQs em bancas e livrarias para poder ler algumas coisas que precisava e não tinha dinheiro pra comprar. A moral começou a ficar de cabeça pra baixo.
Sobre prostituição é melhor nem falar! Não precisei vender o corpo, mas fazia quase tudo pra ganhar uma grana que ajudaria a pagar a faculdade. Minha família viva um período difícil (nem tão difícil assim, reconheço, nunca passei fome). O lance é que se não tivesse prostituído meu trabalho não teria completado os estudos. Escrevia roteiros pornôs para empresas de caráter pra lá de duvidoso e assinava com pseudônimo pra ninguém saber que era eu. Não queria atrapalhar os trampos com os quadrinhos da Disney Brasil lançados, naquela época, pela Abril Jovem. Respondia cartas para revistas de horóscopos sem entender porra nenhuma do zodíaco, escrevia cartas de fãs encomendadas para os fóruns de revistas masculinas, enfim, pequenas pilantragens que me ajudaram na sobrevivência. Devo ter feito isso com música também. Sem contar as pequenas e grandes traições que perpetramos e sofremos em nome do amor.
Tanto a prostituição quanto a moral são colocadas à prova diariamente.
Não posso falar pelos outros. Eu já prostituí meu trabalho e ainda hoje faço o que posso com o que tenho. Muitas vezes tiro frases, que deveriam estar no texto para que ele fique adequado e eu possa vendê-lo como projeto para alguma empresa. Isso não é só abrir exceção, isso é mutilar, prostituir, censurar e outras coisas ainda mais indesculpáveis. Esse é só um pequeno exemplo dos muitos pecados que cometo. Mas faço. E farei de novo se precisar. Tem pessoas que não fazem qualquer concessão e eu as invejo do fundo do meu coração. Invejo, mas não imito. Não é pra mim. Se eu precisar trocar coisas numa música ou num texto pra que o projeto aconteça, eu farei dentro dos meus limites.
Hoje tenho o privilégio de trabalhar apenas com coisas que adoro, amanhã ninguém sabe. Pode mudar tudo e eu precisar fazer coisas que não me dão prazer, mas me dão um jeito de ir sobrevivendo e sobreviver também é importante.
Isso acontece na música, na literatura ou em qualquer outra coisa. A moral e a prostituição são conceitos delicados. Faz tempo que coloquei um limite.  Tenho a exata noção de até onde posso chegar e quando fico muito perto desse limite o melhor é sair fora para não cair em tentação e empurrar a linha mais pra frente, se eu começar a fazer isso não vai ter fim. Dentro dos meus limites eu não prejudico ninguém e consigo dormir em paz.
Uma vez elogiaram as Velhas Virgens de não se venderem e esse papo todo. O Paulão me saiu com essa que acho muito sensata:
“Nunca nos vendemos por que nunca se ofereceram para nos comprar...”

Quem sabe o que teria acontecido se houvesse uma proposta?

Comentários

  1. TE PAGO UMA BREJA...NO SEU PRÓPRIO BAR...

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  2. Alexandre...tenho a garrafa da breja de um show feito em várzea pta até hj...venda...mas não se venda...preço é diferente de valor...30 anos é diferente do que o Sr Sucesso prega...tantos começaram...qtos terminaram?
    Quem restou na porra toda? AVV....Sucesso pelo trabalho....Não pela modinha!

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