“AO VIVO NO LOVE STORY” – 30 Anos no puteiro! (gravado em 2016, lançamento 2017)



Como eu disse no capítulo anterior, o ano de 2015 estava acabando e a banda junto com ele. Tudo parecia caminhar para um desfecho pouco glorioso de uma longa carreira quando a Ju Kosso veio conversar comigo. A ideia era achar outro empresário e tentar fazer algo grandioso para os 30 anos de banda que se aproximava. Me deu o telefone de um empresário de Jundiaí que trabalhava com alguns artistas grandes. Agradeci, mas não dei muita atenção. A gente estava tão acostumado a ouvir nosso antigo empresário menosprezar o trabalho da banda que não achávamos possível que houvesse interesse. Cansou de dizer que as Velhas era uma banda muito difícil de vender, que o trabalho era indigesto demais, que a gente só existia porque ele conseguia fazer o “impossível” com o que tinha na mão. Estávamos com a autoestima tão em baixa que nem nos perguntávamos “se o negócio era tão ruim porque não largava?” Isso servia também pra algumas pessoas que passaram pela banda, ficaram um tempo grande e depois saíram atirando e dizendo que era tudo uma merda. “Se era tão merda porque não saíram antes?”. Não estávamos em condições de questionar.
Chegou a hora de tentar todas as opções. Liguei pro empresário que a Ju me falou e marcamos uma conversa. Ele me mostrou um novo panorama. Contou que tinha feito um trabalho de recuperação com outra banda que se encontrava na mesma situação deplorável da gente e agora os caras tinham um monte de shows e um cachê bem razoável, isso podia acontecer com a gente na base de um bom planejamento de carreira. Disse tudo o que eu precisava ouvir pra recuperar as forças e voltar a lutar. Falou que a banda tinha um público fiel, tinha um repertório difícil, porém honesto e bom o suficiente pra render shows. Enfim, encheu a nossa bola que andava bem murcha. Marquei com Paulão e Tuca e fomos conversar com o novo escritório e eles ficaram com a mesma boa impressão que eu.
Quando você vai começar um novo trabalho sempre tem aquelas dúvidas a respeito um do outro. Sempre tem quem fale mal e outros que falem bem. Sempre há arestas dos dois lados.
Mesmo com as dúvidas, resolvemos ariscar tudo e fechar com o novo escritório.
O ano terminava mal, porém com uma perspectiva interessante. Em 2016 a gente completaria 30 anos de carreira e eu não tinha grana pra fazer nenhum evento ou produto condizente com o fato, mas a gente tinha um apoio diferente dessa vez. Pensamos no que poderia ser feito e surgiu a ideia de gravar um DVD no Love Story. Essa é o divisor de águas que nos recoloca no jogo. Explico. O Love é chamado em São Paulo de “A casa de todas as casas”, onde as trabalhadoras e trabalhadores da noite iam depois que acabavam o batente. Talvez se o novo escritório e o Love Story não tivessem abraçado a ideia não teria banda hoje.

Nossos novos empresários nos disseram uma coisa que eu já tinha perdido as esperanças de ouvir: “A ideia é ótima. Deixa com a gente que vamos resolver isso. Inclusive financeiramente. Se preocupem em preparar um bom show.”. Nossa única exigência foi ter o Paulo Anhaia pra fazer o som de resto eles podiam tocar o barco. Acertaram com o Love Story, que adorou a ideia, chamaram o Daniel Ferro e sua equipe pra captar a imagem e uma ótima unidade móvel do Na Cena para o som. Montaram um palco e deixaram o Love do jeito certo!

Pros nossos padrões, o escritório estava colocando um “caminhão” de grana nesse produto que teria que ser pago em algum momento. Isso me deixava ansioso, apesar deles não parecerem preocupados. Fizemos um acordo. Parte do evento seria pago com a bilheteria do dia. Inventamos inúmeros jeitos de vender ingressos e outras loucuras, porém não seria suficiente. O restante seria pago durante a turnê com venda de DVDs físicos e a entrada de grana do digital.

Noite inesquecível no Love Story
Ia demorar, mas tudo seria pago.
A gente vive de coisas inéditas, de realizar sonhos. 
Esse show reacendeu no Paulão uma vontade de estar no palco. A turnê “Velhas Virgens 30 anos – Ao vivo no Love Story”, além de nos recolocar no circuito com um excelente produto, nos devolveu a vontade de tocar juntos. Durante o ano trabalhamos muito pro show do Love ser bem executado e depois para que a tour fosse bacana. 




Velhas e Benito!


No meio disso ainda tivemos a honra de Benito Di Paula gravar ao piano “A Última Partida de Bilhar” (Ale Cavalo/Paulão de Carvalho). Um monstro no piano, uma noite inesquecível. Depois gravaríamos Retalhos de Cetim do Benito, numa versão blues, conto em outro post que merece uma história.

Foi um dos grandes momentos do ano, que devemos muito aos nossos parceiros de Jundiaí.






Meu único arrependimento foi não ter chamado o MC Catra pra gravar com a gente. Ele tinha falado que gostava das Velhas em algumas ocasiões e seria uma mistura interessante, pra dizer o mínimo. Era o começo dos ódios na internet e acabamos achando melhor aguardar um momento oportuno para chamá-lo. O problema é que o Catra morreu logo depois. Não havia tempo sobrando. Nunca há. Lição que a gente já reaprende sempre. A gravação podia ter dado certo ou podia ter sido um fiasco, mas seria alguma coisa.

A banda bem vestida: Paulão, Cavalo, Tuca, Ju, Fil e Simon
Ainda não tínhamos reatado os laços de amizade completamente, mas a gente via que era uma questão de tempo. Havia novas perspectivas e isso era animador.
Esse DVD saiu em 2017 e nos salvou, fechou um ciclo gigante da carreira e ainda por cima colocou a banda de volta nos trilhos para recomeçar.  Uma tour que durou quase 3 anos e nos animou a compor para Velhas e a pensar em disco novo que seria uma espécie de recomeço da banda, mas essa também é uma outra história.

Comentários

  1. Menotti Russo (roxmi58)28 de maio de 2020 às 09:39

    Pra mim um show no "Love Story" era a cara das VV e a escolha pareceu lógica e natural - mas isso é muito fácil de dizer pra quem está de fora e por fora de tudo, claro... O show e seus subprodutos DVD/CD ficaram realmente muito bons e devem ter ampliado a base de fãs da banda... assim espero e, mais ainda, com a entrada de muitos merecidos cachês pela turnê! Enfim, é isso que os fãs querem: vida longa às VV e rock na veia! Sucesso para vocês, sempre!

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