SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA - Tenho vida de adolescente: Música e Quadrinhos

Tenho uma vida que todo adolescente queria ter. Trabalho com música e com histórias em quadrinhos, e o que é melhor, ainda me pagam pra isso! Nem tudo é o que parece. Acontece que não sou mais um adolescente e tenho que me virar muito pra que a grana dê pra pagar as contas no final do mês.
Escrevo roteiros, depois saio pra produzir o projeto e tentar emplacar com alguma empresa pra conseguir vender os livros. Escrevo livros que publico hora no digital hora no físico. Faço toda a produção dos discos e DVDs das Velhas Virgens. Não é mole. Muitas vezes a vontade e largar tudo e mandar todos à merda. Mas acredito que todo mundo que trabalha passa por isso.

Às vezes pinta um convite que é especial dentro desses muitos trabalhos. Considero o pedido do +Roger Cruz um desses casos maravilhosos. Me chamou pra escrever o prefácio da sua HQ Xampu 2. Fala sobre os anos 90 e o grunge. Uma época muito divertida na minha vida! O texto que fiz foi esse e a HQ eu recomendo. Sensacional.
Capas de Xampu 1 e 2


Xampu 2
Já tivemos cabelos grandes. Dava pra ir à praia sem roupa. O pessoal brincava que eu parecia uma vassoura ao contrário. Muito cabelo na cabeça e quase nenhuma carne no resto do corpo. Um esfregão. Cabeludos estavam na moda.
Houve um Rock in Rio em 1991. Eu estava lá. O som não era “tão” ruim assim na arquibancada. Só ruim.  Foi um dia maravilhoso. Cheguei em casa louco pra voltar pra garagem e ensaiar com minha banda de rock!
A gente brincava com copos, espíritos e, pasmem, se assustava com isso.
Também tínhamos camisas de flanela que só serviam pra amarrar na cintura e usávamos coturnos com bermudas até em casamento.
A gente invadia uma área de ricaços em São Paulo. Fechávamos uma rua nos Jardins, só com cabeludos e cabeludas, em dois bares gêmeos que se chamavam São Paulo e New York pra beber e tentar a sorte com as garotas.
Tinha treta o tempo todo, com carecas, com punks, entre nós mesmos. Aprendi com o Ronaldo dos Inocentes a usar o cinto de tachinhas como arma de guerra. Apanhou-se muito. No final sobrevivemos.
E as garotas? Rock’n’roll total. Lindas. Descoladas. Loucas. Faziam a gente perder literalmente a cabeça.
Sim, eu também frequentava um apartamento onde encontrava com amigos cabeludos, garotas bacanas e bandas de rock. Começo dos anos 90, as Velhas Virgens estavam preparando o primeiro CD e nesse apê a gente fez amizade com a galera do Viper, Capital, Party Up (que depois virou Toy Shop), Anjos dos Becos e uma porção de outras bandas e artistas iniciantes e outros nem tanto.
Era uma vida deliciosamente louca.
Conheci o Roger mais ou menos nessa época. Eu fazia uns roteiros pra HQ pornô que ele desenhava (podia ter contado isso, Roger? Agora já foi). Pouco tempo depois ele estava na Marvel fazendo um “puta” sucesso. Eu falava que a gente tinha feito histórias juntos e ninguém acreditava.
A pouca grana que eu tinha vinha das histórias pornôs, um pouco de Disney e trampos pra editoras pequenas que pipocavam na época. Dava pra pagar a faculdade e só. Os livros e HQs eram cortesias de pequenos furtos em livrarias e bancas. Pelo tanto que gastei depois já devo estar perdoado.
Bom, só contei tudo isso pra colocar uma frase que devia começar essa porra:
“Roger, filho da puta! Contou a história que eu gostaria de ter escrito!”.

Gritei, maravilhado, quando li Xampu 1!

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