“NINGUÉM BEIJA COMO AS LÉSBICAS” (2009) - "A BOCA, A BUCETA E A BUNDA" E OUTRAS TRETAS

Pôster da Turnê. Design e logo de Ju Vechi, ilustração de Weberson Santiago.
Chegou um momento de falar das gravações do meu disco predileto das Velhas Virgens: “Ninguém Beija Como As Lésbicas”. Costumo dizer que meu trabalho preferido é sempre o próximo, mas olhando em perspectiva esse é o que mais me deixou satisfeito e o que deu mais briga e dificuldades. Felicidade nunca fez boa poesia, e esse disco foi trabalhoso, tempestuoso e por algum tempo gerou infelicidade pra todos que participaram. Paulão e eu chegamos a ficar sem nos falar, um clima horroroso nos ensaios. Cada um querendo uma coisa diferente, músicas diferentes, ideias diferentes. Não estávamos falando a mesma língua.
Ilustra de Weberson Santiago
Como sempre chegamos com umas 40 músicas pra toda a banda dar suas opiniões. A ideia era fechar em umas 20, começar a ensaiar, afinando o repertório até chegar numas 12 ou 13 canções que iriam ser gravadas. Até aqui tudo bem. Era uma coleção interessante de músicas que, de um jeito estranho, faziam sentido juntas. Chamamos o Fábio Haddad para produzir. Ele ouviu o repertório e falou que só gravaria se algumas letras fossem mudadas. Especialmente “A boca, a buceta e a bunda”, e uma sobre um cara narigudo que não lembro o nome, causaram polêmica. Ele achava que algumas eram agressivas, deselegantes e não acrescentariam nada ao repertório. Sugeriu até mudanças nessa e em outras letras o que deixou o Paulão desconfortável, pra ser bem comedido. Na verdade Paulão ficou puto da vida. Com razão, afinal nós somos as Velhas Virgens, agressivas e deselegantes!

Velho Safado - Animação de Weberson Santiago

Como sou eu que cuido de toda essa parte artística de desenvolvimento de projeto, conversei particularmente com Paulão e Fabinho, ouvindo os argumentos e argumentando tentando chegar numa solução em que todos conseguiriam trabalhar. Falhei vergonhosamente. Fabinho não quis gravar o disco. Saíram farpas entre todos e ele largou o projeto.  A gente tinha que chamar alguém que tivesse coragem de encarar o repertório, conhecesse as músicas e fosse bom o suficiente pra fazer o disco. A resposta era Paulo Anhaia. O problema era que o Paulo estava num momento espetacular da carreira. Produzindo um monte de coisa no estúdio Midas e ganhando prêmios internacionais. Enfim era um cara caro demais pra nós. Lá vou eu com as músicas embaixo do braço e a missão de convencer o Paulo a fazer a produção. Foi muito mais simples do que eu esperava. Mostrei as músicas e ele curtiu. Como já era um cara experiente, encurtou o assunto perguntando o quanto de grana eu tinha pra fazer o disco. Ele sabia que esse era todo o problema. Expliquei, dando voltas, que a gente tinha falado com o Fabinho que faria por conta da amizade, mas que tinha declinado e a gente nem cogitou chamá-lo justamente por conta da grana. Mandei o que tinha disponível de verba e como eu poderia pagar. Paulo topou na hora, mas tinha condições. Seria a primeira vez que a gente iria gravar os instrumentos sem amplificadores e a bateria seria tocada na eletrônica, uma forma mais econômica e rápida de gravar o disco. Não gostei, porém não tinha alternativa. Ele me garantiu que iria ficar bom e que o som seria uma surpresa para mim. Como sempre Paulo Anhaia tinha razão. O disco tem uma sonoridade excelente, muito bem gravado.

Design e logo de Ju Vechi, ilustração de Weberson Santiago.
O Paulão (Carvalho) estava com uma ideia de juntar todas as músicas em uma única história e fazer um álbum conceitual. Vínhamos conversando sobre isso e ele chegou numa história interessante sobre um mundo dentro da garrafa que foi se desenvolvendo ao mesmo tempo em que as músicas tomavam forma.
A treta começou nesse momento. Os motivos? Primeiro financeiro. Paulão queria gravar 15 músicas sendo que duas delas eu não gravaria de jeito nenhum, nesse ponto eu tinha um aliado forte. Paulo Anhaia não curtia também, achava que elas não precisavam entrar no repertório, só seriam custo a mais no final. As duas poderiam sair sem prejudicar a história criada pelo Paulão. Segundo o nome do disco. Paulão queria que se chamasse “Ninguém beija como as lésbicas” e eu queria “Ninguém beija como elas”, aqui o motivo era puramente mercadológico. Eu sabia, por experiência, que um disco com lésbicas no título não seria vendido em lojas nem ficaria exposto em locais públicos e eu precisava vender pra pagar estúdios e os outros gastos que viriam. Paulão parecia ignorar meus dois pedidos. Ele estava irredutível e por meu lado comecei a ficar muito chateado. Porra, o cara não estava se colocando no meu lugar nem um minuto? Que caralho de amigo era aquele? De chateado eu acabei ficando irritado. O pensamento mudou para “estou colocando grana que não tenho pra fazer essa merda e continuar a tocar o barco e o cara não abre mão de nada”.  Daí pra azedar tudo foi um pulo. Cheguei a pensar em parar, largar tudo e falar pra ele fazer do jeito que quisesse. Esse era o clima dos ensaios. Paulo Anhaia servia de psicólogo e tentava arrumar as coisas, mas estava complicado. Até um dia que Paulão me chamou pra conversar. Sou um cara muito complicado, nem tudo consigo por pra fora e nem sempre consigo transformar em palavras o que penso. Um defeito sério. Chegamos a um acordo de paz.  Ainda não estava tudo bem, mas teríamos tranquilidade pra acabar o trabalho.
Ele cedia sobre as músicas e eu aceitava “Ninguém Beija Como as Lésbicas”. Por conta do nome do disco achei por bem mudar o planejamento de vendas. Investir muito mais na venda direta e esquecer a distribuição em loja. Uma decisão acertada. Apesar de não vender em quantidades gigantescas, toda a grana vinha pra banda e não era dividida com distribuidores e vendedores. A lucratividade foi boa durante os dois anos que durou a turnê. Vendas na nossa loja virtual e nos shows por um preço melhor que teria nas lojas. Além disso a gente poderia pegar pesado na parte visual e fazer alguma coisa muito mais artística e isso era um ponto positivo e me dava argumento pra tirar o disco das lojas.
Tenho que admitir que Paulão acertou, e muito, no nome do disco. Desde então eu aprendi a confiar mais na sua intuição quanto a determinadas coisas. O Paulo Anhaia colocou testuras entre as músicas para costurar tudo como se fosse uma coisa só. Uma Ópera Rock!
Gravamos o disco e, com o apoio da Ju Vechi pensando junto com a gente todo o visual (desenhou todo o figurino e desenvolveu a ideia do encarte e palco) e do Weberson Santiago fazendo as ilustrações, fizemos um trabalho visual que é uma verdadeira obra de arte. A capa é linda, o encarte é perfeito, havia até um “libreto” da nossa história dentro do site: “Ninguém Beija Como as Lésbicas – Uma ópera tosca das Velhas Virgens”. Levamos esse show para o palco. Colocamos 10 das 13 músicas do disco ao vivo com um incrível sucesso. Paulão encarnava o Gênio da Garrafa, a Ju se vestia de dona do Bordel com uma roupa elegante, a banda estava com um figurino que nos dava um ar de “contador” da máfia dos cassinos. Tudo relacionado com a capa do cd que era uma orgia maluca em preto e branco imitando carta de baralho.
Tivemos algumas participações no disco, mas foi em Bortolotto Blues, que Paulão e Mário Bortolotto dão um show à parte!
Apesar de toda a encrenca, brigas, intrigas e coisas novelescas que aconteceram durante os ensaios e gravações deu tudo certo. No final todos queriam o melhor para o trabalho, e fizemos um grande disco, gravado em 2009 e lançado em 2010!

Comentários

  1. É tudo na bateria eletrônica? Caraca!!!

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    1. O Simon tocou numa eletrônica depois usamos plug ins pra deixar o som solto. Ficou bom, né?

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  2. Foi o disco das Velhas que eu mais ouvi, e ainda ouço... gosto das texturas (que eu chamava de ligações ) entre as musicas;

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  4. Poxa, que bacana saber destas histórias.. Acho esse CD duca d+++.. Parabéns para todos vcs... Vcs são phodas!

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  5. Eu acho esse disco sensacional também, desde o lançamento até hoje ele está no rádio do meu carro. Fui em vários shows da tour desse disco aqui no RS. Boas lembranças! Voltem logo pra Caxias do Sul. Não perco um show de vocês tem uns 10 anos!

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  6. Uma banda muito boa no passado, calcada em blues e agora virou mais do mesmo, músicas sem alma e som parecendo Sex Pistols. Para mim a banda acabou com o Sr. Sucesso, depois só fizeram m, fora os ao vivo o resto é uma b**.

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    1. Sempre falamos em liberdade e você tem a liberdade de ter sua opinião, como nós temos a liberdade de discordar completamente. Som parecendo Sex Pistols? Acho que você não ouviu direito ou só ouviu uma ou duas músicas. mas beleza. cada um na sua! Paz.

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  7. Qual era o nome e sobre o que diziam as tais duas músicas?

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