NINGUÉM QUER AS VELHAS? FODA-SE! VAMOS FAZER NOSSA PRÓPRIA GRAVADORA!


Em 1998 ninguém queria saber da gente. Já tínhamos lançado dois CDs e nos tornado “personas non gratas” em muitos lugares, sem ter feito nenhum grande sucesso. Havíamos acabado de fazer a “demo” do disco “Sr Sucesso” e mandado para todas as gravadoras. Entre os muitos comentários que ouvi o mais sem noção foi: “Vocês deviam fazer algo como o Claudinho e Bochecha”. Nada contra a dupla, mas a conclusão é que nem chegaram a ouvir o trabalho. Não temos nada de Pop nesse sentido, a vibe era outra e o mercado não estava a fim de ouvir o que a gente tinha pra dizer.
Era desistir ou encontrar um novo caminho. Resolvi tocar um foda-se que mudou minha vida. Quando falei pra banda que iria fazer a gravadora, mudar toda nossa divulgação para uma coisa chamada Internet (na época ainda discada), comprar os dois outros CDs e colocar no catálogo e lançar o novo disco de uma forma diferente, ninguém me ouviu. O Paulão até me falou que esse negócio de internet nunca iria funcionar. O problema é que não havia opção. Era pegar ou largar.
Eu já estava ligado em selos gringos como a Sub Pop e a Road Runner que vinham fazendo um trabalho alternativo bem interessante.
Montei a gravadora junto com um sócio que morreu logo depois de assinar o contrato de abertura de empresa. Era um grande amigo e teria feito total diferença se tivesse vivo. Gabriel Bastos Junior era um jornalista e crítico de arte pop como quadrinhos e música. Trabalhava em um monte de jornais. O nome da gravadora virou GABAJU em homenagem a ele.


Momentaneamente perdi o chão. Não sabia direito se continuava ou se aquele mau presságio inicial iria me acompanhar. A vida andou e toquei sozinho o negócio com a ajuda da galera da minha antiga editora de HQs. Junto com eles fizemos a revista pôster e lançamos nosso primeiro produto em bancas de jornal. Assim começou a aventura da gravadora criada para lançar os discos das Velhas Virgens quando ninguém, além de nós, acreditava que podia virar.


Fizemos o site da banda (um dos primeiros de banda independente no Brasil), trocamos a caixa postal dos correios por e-mails, montamos um rede de fãs em cima de inscritos e com isso crescemos sem precisar do famoso jabá nas rádios. Um trabalho de formiga, grão por grão, fã por fã, alcançados na base da divulgação alternativa e do boca à boca.
Comprei os outros dois CDs e relancei logo depois.
Mais de 20 anos depois, foram 25 cds (sendo que 18 das Velhas e saindo mais um em 2019), 5 DVDs das Velhas e 1 do Viper, sem contar nossa loja virtual própria com roupas, bonecos, canecas, copos, livros e outros produtos. Até uma linha de lingerie chegamos a ter.


Sofri um bocado nesses anos, tive decepções e alegrias, trabalhei muito, ganhei e perdi dinheiro e amigos, vendi até o carro pra pagar as contas. Não é o negócio dos meus sonhos, nem o mais lucrativo, mas foi o melhor que eu pude fazer com o que eu tinha na mão. A GABAJU RECORDS viabilizou um trabalho que seria, no mínimo, muito diferente de outra forma, pra não dizer impossível. Se podia ter sido muito melhor? Não sei, o “se” nunca ganhou jogo.

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