SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA - CORRENDO 8 KM PARA ENSAIAR COM AS VELHAS


Ensaios para o 1º Disco - 1994

Ilustração anterior ao 1º CD de Alexandre Montando

Em 1994 começamos a ensaiar para gravar o primeiro CD. Resolvemos juntar a grana, Paulão, Lips e eu, para pagar estúdio e o nosso produtor: O estreante Paulo Anhaia. O Caio não tinha como colaborar. Era o mais novo, com maiores dificuldades financeiras. Aliás, dificuldades financeiras é uma característica dessa banda. Lembro até hoje que o Paulão tinha (em se tratando do Paulão pode ser que tenha ainda) uma agenda onde ele anotava as dívidas que a banda contraiu com cada um e sei que uma parte desse primeiro disco não foi paga até hoje!
Pra ter uma ideia das complicações daqueles tempos vou contar como eram os ensaios. O Lips morava numa casa em Guarulhos com uma edícula nos fundos e no alto. Um lugar pequeno, mas que cabia a banda e não atrapalhava ninguém. A gente podia deixar o equipamento todo montado. Eram amplificadores ruins, uma mesa de seis canais horrorosa e microfones péssimos. Enfim, tudo o que uma banda precisa para se manter eternamente na garagem. No nosso caso, no quartinho dos fundos. Era um jeito de ensaiar já que grana pra estúdio ninguém tinha. Olhando agora, com o distanciamento histórico de mais de duas décadas, pode parecer um lugar insalubre, mas era praticamente o paraíso. Era ali que a gente arranjava as músicas, arranjava muita briga também, montava os shows e ali iniciamos os ensaios para a gravação do primeiro CD.
No começo eu ia a pé. Naquela época não tinha grana pra pegar dois ônibus até Guarulhos e carro era um luxo distante. Então eu deixava minha guitarra no quartinho e corria os oito Km que separavam minha casa, na Zona Norte de São Paulo, da casa do Lips em Guarulhos. Minha magreza foi para níveis estratosféricos. Minha alegria foi imensa quando meu irmão juntou grana pra comprar uma bicicleta. Os últimos ensaios eu fiz com a magrela que me acompanhou por muito tempo. Apesar das dificuldades recordo esses tempos com carinho. A gente tinha uma ingenuidade e um vigor físico próprios da idade que não se repetem.
Paulo Anhaia ouviu pacientemente todas as músicas compostas até então. Eram muitas, passavam de cinquenta e nos ajudou a escolher o repertório. Hoje eu acho que cometemos inúmeros equívocos nessas escolhas, porém na época era o que acreditávamos ser o melhor que a banda tinha produzido até ali. Todas as músicas do Paulão. Só fui emplacar minha primeira canção com “Não Vale Nada” no segundo álbum.
De todas as canções, ficaram 13 que foram gravadas e nenhuma da primeira fase da banda. Nosso produtor ajudou muito a arrumar os arranjos, aparar arestas, colocar uma ou outra peça que faltava. Nenhum de nós tocava realmente bem então ensaiávamos muito. E também havia muita amizade. A gente gostava muito daquelas horas juntos.
Depois de inúmeras Demos ruins, a banda ia finalmente gravar de uma maneira profissional.
Fotos para o 1º CD tiradas por Ale Montando

Estávamos radiantes. Nem passava por nossas cabeças cabeludas os problemas gigantescos que iríamos enfrentar para lançar o disco. Mas essa é uma outra história.
 

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