SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA - O roubo de um pedal põe fim na banda. VELHAS ANOS 80


Depois de muitos bateras (mais de dez passaram pela banda) encontramos uma dupla. Fabiano estudava comigo na FAAP e tocava guitarra muito bem. Tinha um amigo batera que também chamava Ricardo. Mudamos a banda para um quinteto e o Paulão começou a tocar gaita. Quando isso acontecia eu ia para o baixo. Hoje é banal, mas na época foi uma solução interessante.
Essa formação durou uns poucos meses e rendeu a gravação de Selvagem do Asfalto, música que iria entrar, anos depois no nosso segundo disco. Logo os dois músicos viram que não dava pra continuar com a gente e saíram. Ricardo foi passar um tempo fora e Fabiano hoje é um grande artista plástico e continua tocando guitarra muito bem. Infelizmente não temos fotos deles nessa época.


Me lembro de um show no Blue Note na Zona Sul de São Paulo que foi marcante. Celso deixou o palco sob poucos e frios aplausos. Paulão iria finalizar o show cantando uns blues. Quando ele começou foi inacreditável. Outro show. As pessoas subiam nas mesas pra dançar, cantaram junto e, pela primeira vez, eu senti que ali tinha uma banda.
Aqui você pode ouvir como foi o final desse show que temos boa parte gravado. Paulão cantando Sex, Beer and Rock'n'roll (música dele), com um cara chamado Jeff na gaita.

Sex, Beer and Rock'n'roll - Ao vivo no Blue Note - 1989

Não preciso dizer que minha relação com Celso azedou de vez. Naqueles tempos, toda alegria acabava muito rápido. A gente não podia ver o outro feliz que logo arrumava um jeito de tretar. Me incluo nessa também. A relação estava desgastada. Tivemos uma briga séria logo depois do show. O Celso tinha um pedal para voz e sempre guardava na minha mala. Era um equipamento caro na época e quando fomos pegar as coisas ele tinha sumido. Fui acusado de ser o responsável pela perda, ouça bem, o Celso não disse que eu roubei, apenas que eu devia ter cuidado melhor já que estava comigo e exigiu que eu pagasse o equipamento. Coisa que fiz durante alguns meses. Guardava uma grana, comprava dólar e pagava. Eu não tinha grana pra nada, fazia uns trabalhos estranhos, inclusive escrevendo roteiros para revistas de quadrinhos eróticas, produzia e vendia um fanzine chamado Muriçoca na faculdade, tudo para poder pagar os estudos e ajudar um pouco em casa. As vacas eram bem magras no final dos anos 80. Não foi fácil.
Fiquei triste pacas e ainda mais sentido pelo fato de ninguém na banda ter falado que aquilo era errado. Hoje até entendo o ponto de vista deles. De cabeça quente liguei para Paulão, magoado, dizendo que não ia mais tocar. Com a saída de Ricardo e Fabiano a banda teria seu fim. Paulão estava numa situação, pra dizer o mínimo, delicada. Era meu amigo, mas era irmão do Celso. Naquele momento, acabou não tomando nenhum partido e logo depois ficou do meu lado, o que deixou o Celso irritadíssimo. Poderia ter sido o fim. Só que não.


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