SOBREVIVENDO NA INDEPENDÊNCIA - Siririca Baby no Paraguai e todo mundo no pelotão de fuzilamento


Fomos convidados para fazer o Quilmes Fest. Um grande festival que ia acontecer em Assuncion no Paraguai. Tudo certo. Hotel bacana, entrevistas, tratamento vip, passeio pela capital do Paraguai, bandas locais muito interessantes, outras legais do Chile (Los Tetas), do Uruguai. Enfim, um festival para 30 mil pessoas.
Descobrimos que uma banda ganhava disco de ouro por lá com uma venda de mil CDs, no Chile eram dez mil e nós com cem mil. Coisas da nossa América latina.
Vamos ao que interessa. Nosso show estava indo muito bem. Rock’n’roll em português, eles não compreendia direito a língua, mas a linguagem musical era mais que conhecida para se fazer entender. Fomos bem até o meio do show. Quando começamos Siririca Baby e o Paulão fez a toda a encenação de masturbação e outras coisas mais despudoradas houve um momento de tensão. Depois desse breve intervalo, que não durou muito, ganhamos o maior coro de “Putos! Putos! Putos!” que uma banda já recebeu na face da terra, no universo conhecido e do desconhecido também. Além da chuva de latas de Quilmes que voavam a torto e a direito.

Explico aqui o que deviam ter explicado pra gente lá. Aparentemente não existe uma palavra para eles que signifique “siririca”, lá é, simplesmente, “masturbación femenina”. Não entenderam que o Paulão estava imitando uma mulher se masturbando e não dando uma de transformista louco! Então todo o preconceito machista dos latinos veio à tona com fúria:
E tome “Putos”. E tome latada!
Se tivessem avisado a gente que eles não iriam entender, talvez tivéssemos a lucidez de tirar a música do repertório. Mas, naquela época, “Siririca Baby” era um dos pontos altos do show. Não foi o que aconteceu por lá.
Depois tocamos o restante do repertório que foi muito bem. Foi o primeiro show que a Lili se apresentou sozinha e recebeu muitos elogios, não pelos seus dotes vocais, mas pela sua performance contagiante. Virou capa do jornal do dia seguinte. A plateia adorou aquela menina vestida de colegial fazendo as barbaridades das velhas Virgens.

No final chamamos “Los Tetas” pra tocar “Minha vida é o rock’n’roll” do Made In Brazil e o inusitado crossover foi bastante aplaudido.
Saímos do palco, felizes. Felizes, naquela época rimava com “vamos ficar muito loucos que tudo deu certo”. Bebemos um bocado.
Nosso camarim era junto com das outras bandas, com exceção do Fito Paes, esse sim o maior nome do festival, com camarim forrado de espelhos e muita agitação.
Não me lembro quando, em que ponto da doideira, começamos a bater nas paredes e gritar: “Fito! Fito!”. As outras bandas acharam engraçado e entraram na brincadeira. Logo era um coro enorme de loucos gritando: Fito!
Não sei se o Fito não achou graça ou se a produção ficou com medo. O que aconteceu foi que nessa hora entrou o exército (isso mesmo, metralhadoras e fuzis em punho) no camarim e nos tirou de lá em fila indiana e com as mãos para cima.
Ficamos alinhados como num pelotão de fuzilamento. Admito que minha bebedeira foi curada quase que instantaneamente. Achei que já era. Alguém com o dedo nervoso podia atirar e, fim!
Ficamos assim até o final do show do Fito. Só depois que ele foi embora fomos liberados pelo exército paraguaio. E, por sorte, nenhum deles tinha o dedo nervoso. Saímos somente com a dignidade parcialmente arranhada e as calças borradas.


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